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terça-feira, 1 de junho de 2010

Bullying na escola inclusiva: Brincadeira ou Maldade?

Este texto faz parte da minha monografia:
UAB/UNB
Especialização em Desenvolvimento Humano, Educação e Inclusão Escolar
Pólo de Santa Maria- Turma B


                                                                                                                                      BULLYING BASTA!









Texto:  Ergina da Silva  Lima (Gina Lima)

Orientadora Educacional do CED 416 de S.Maria
Professora da EJA do CEF 316 de Santa Maria

“O enfrentamento do Bullying, além de ser uma medida disciplinar, também é um gesto tremendamente educativo, pois prepara os alunos para a aceitação, o respeito e a convivência com as diferenças"

Içami Tiba


A sociedade atual vivencia e suplica pela consolidação de uma cultura de paz, em especial no espaço escolar, onde a violência tem deixado sua marca nos altos índices de reprovação, na evasão escolar, na qualidade das aulas e em consequência, no baixo rendimento durante o ano letivo.

A reclamação é generalizada, os pais dizem não saber que atitude tomar com seus filhos, os professores estão angustiados e sentem-se desamparados, a direção das escolas e os orientadores educacionais estão buscando saídas para sanar com essas mazelas que tem agindo as crianças, os jovens e os adultos estudantes.

Portanto, é um desafio para este século XXI, compreender, intervir, mobilizar, conscientizar e combater as inúmeras causas que está levando nossos jovens e prematuramente nossas crianças a cometerem atos de violências no interior e fora das nossas escolas.

A violência escolar, conhecida como Fenômeno Bullying, é uma questão que tem ocupado lugar de destaque nas páginas jornalísticas, é tema discutido em novelas e vem se alastrando nos espaços escolares envolvendo alunos de diferentes níveis e modalidades da educação.

Atos violentos sempre ocorreram nas escolas, porém somente no início dos anos 70, a Noruega, considerada um país de baixa violência, iniciou a investigação desse fenômeno, mas não recebeu a necessária atenção das instituições e autoridades. O suicídio de três jovens, na década de 80, desencadeou atitudes que culminaram na Campanha Nacional Anti-Bullying, em 1993.

No Brasil muitos estudos estão sendo realizados, entre eles as pesquisas de Cléo Fante (2003, p.61) baseada em dados internacionais, onde detectou que de 7 a 24 % das crianças em idade escolar no globo terrestre, estão envolvidas com alguma forma de condutas. Cabe aqui destacar a ação do Projeto Educar para a Paz, que estimula os alunos a escreverem redações sobre suas vidas na escola e em casa, como forma de desabafo das vítimas.



“Ameaças, agressões, humilhações, apelidos ofensivos... A escola pode se tornar insuportável para crianças e jovens
que sofrem nas mãos
de seus próprios colega
"


O que é BULLYING?


A expressão BULLYING, vem do inglês e não há na nossa língua palavra que resuma o conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetidas sem motivo aparente, cometidas por um aluno ou grupo contra outro, causando angústia e sofrimento.
O Bullying se apresenta das mais diversas formas de agressão:
Sexual: assediar, induzir e/ou abusar.
Exclusão social: ignorar, isolar, excluir.
Psicológica / Física: perseguir, amedrontar, bater, chutar, beliscar, olhar ameaçadoramente, não aceitar opiniões, impor sua vontade, aterrorizar, intimidar, dominar, infernizar, chantagear, manipular, furtar, roubar, destroçar pertences, ofender parentes, colocar apelidos.
As intimidações podem, ainda, ter caráter homofóbico, ou racial/étnico.
Essas atitudes podem ocorrer em qualquer ambiente social como em casa, no clube, no local de trabalho e outros, mas é nas salas de aulas, no pátio da escola, nos corredores e banheiros que o problema acontece com maior frequência. A escola pode se tornar insuportável para crianças e jovens que sofrem nas mãos de seus próprios colegas e a internet pode potencializar os efeitos devastadores do bullying.


Cyberbullying

O bullying também pode ser manifestado com a presença da vítima ou não – casos de isolamento, por exemplo. Há ainda a situação denominada cyberbullying, que é a utilização da internet (orkut, MSN) ou o celular (fotos, mensagens) para as agressões.

Segundo Cléo Fante a internet, que pode ser um instrumento de auxílio às vítimas é também é usada por agressores em uma forma ainda mais prejudicial de bullying, o ciberbullying, que transfere para a internet as agressões que acontecem na sala de aula, no pátio e nos arredores do colégio, transcendendo os limites da instituição de ensino.

Para humilhar colegas de escola, os meios utilizados vão desde e-mails e mensagens de celular, passando por fotografias digitais e montagens degradantes, a blogs com mensagens ofensivas. Os ataques também tomam forma em vídeos humilhantes e ofensas em salas de bate-papo, alerta Fante.

As causas do bullying


As causas que estão levando nossos jovens, a praticarem os atos acima citados, segundo Cléo Fante, são as mais adversas como: os fatores biológicos referentes à idade; a violência mostrada nos os meios de comunicação, a personalidade do indivíduo; os problemas sociais; os conflitos familiares; as agressões e emoções vividas nas relações interpessoais; os ambientes familiares violentos; o fascínio pelos jogos eletrônicos e o tráfico e uso de drogas.

As consequências

O fenômeno bullying desencadeia uma série de consequência aos sujeitos escolares e principalmente aos professores tais como: a perturbação das aulas; o absentismo, que é a falta de assistência às aulas, os problemas somáticos e psicológicos, como a ansiedade, tédio, depressão; a falta de interesse e desencanto pela escola, queda do rendimento escolar; a falta de perspectiva de futuro melhor, via educação, diminuição na autoestima; evasão escolar; retenção escolar; descrença no poder público.

Como identificar agressores e agredidos
no ambiente escolar


Os agressores:

- Não acata ordens dos pais ou professores;
- Volta da escola com ar de superioridade;
- Tenta impor suas vontades aos demais;
- Apresenta aspecto e/ou atitudes irritadiças, mostrando-se intolerante frente às diferenças;
- Costuma resolver seus problemas valendo-se da sua força física e/ou psicológica.
- Apresenta atitude hostil, desafiante e agressiva também com adultos;
- Porta objetos ou dinheiro sem justificar sua origem;
- Exerce uma liderança negativa.


As vítimas apresentam:


- Baixo rendimento escolar, desmotivação, dificuldade de concentração e aprendizagem;
- Não querer ir a aula simulando doenças como dor de cabeça, náuseas, vômitos, diarréia...
- Pede para mudar de sala ou trocar de escola, sem apresentar motivos convincentes, sente medo;
- Volta para casa irritado, machucado ou com pertences rasgados;
- Apresenta aspecto contrariado, deprimido, aflito e não gosta de falar sobre sua rotina escolar;
- “Perde” dinheiro e evita falar sobre o assunto.
- Tem pesadelos, sono conturbado, às vezes acorda pedindo socorro.
- Acaba por isolar-se em seu mundo, possuindo pouco ou nenhum amigo.



Pai/Mãe:
Violência gera violência!
Recado à família:

- Use meios não violentos para impor limites. Jamais use castigos físicos. A maior lição que o “tapinha” ou a “chinelada” dá é que a violência soluciona conflitos. Use o diálogo.
- Não intimide seu filho ou o trate como um “problema”, nem o humilhe;
- Não o pressione para o sucesso, apenas o incentive a estudar;
- Converse com seu filho, mostre que não aprova o comportamento, mas não deixa de amá-lo.
- Crianças e adolescentes merecem respeito. Valorize suas opiniões. Trate-os de maneira firme, com afeto. Olhe seus filhos sempre nos olhos.
- Se seu filho for alvo de agressões não o culpe, nem exija que ele se imponha perante os colegas. Não exponha seu filho perante a turma. Procure ajuda da escola, converse com o
Orientador Educacional.
- Se seu filho for autor de agressões mantenha a calma e procure compreender o que o leva a esse comportamento, mostrando que ele está errado. Incentive a mudança de atitudes.
- Auxilie e participe das ações da escola e, acima de tudo, seja um exemplo positivo para seus filhos. Vínculos afetivos e bom exemplo dos pais ou responsáveis são a chave para o sucesso na educação dos filhos.

 Alerta às escolas

A Pesquisadora do fenômeno bullying, Cléo Fante é categórica em relação às escolas: "Caso as escolas não adotem medidas preventivas, o fenômeno pode expandir cada vez mais. Isso se justifica pelo fato de que muitas vítimas reproduzem os maus-tratos sofridos. Muitos agressores também acabam se tornando vítimas, num ciclo vicioso de vitimização".

O bullying é praticado em 100% das escolas de todo o mundo. Na maioria das vezes, ele é visto como brincadeira própria do amadurecimento da criança. Mas é devido a essa interpretação equivocada que a prática vem se alastrando cada vez mais. Por outro lado, não devemos generalizar e creditar ao bullying todas as situações que ocorrem dentro e fora da escola, ou de forma virtual. Primeiramente, temos que conhecer o fenômeno e saber diferenciá-lo das brincadeiras próprias da idade", explica a professora Cleo Fante, autora dos livros "Bullying Escolar" e "Bullying e Desrespeito: Como Acabar com Essa Cultura na Escola".
                                                                            Aos Diretores, Coordenadores e
Orientadores Educacionais

 É possível reduzir o Bullying
dentro das escolas, vejam como:


- Desde o primeiro dia de aula, avisem aos alunos que não será tolerado Bullying nas dependências da escola. Todos devem se comprometer com isso: não o praticando e avisando à direção sempre que ocorrer um fato dessa natureza.
- Promovam debates sobre Bullying nas classes, fazendo com que o assunto seja bastante divulgado e assimilado pelos alunos.
- Estimulem os estudantes a fazerem pesquisas sobre o tema na escola, para saber o que alunos, professores e funcionários pensam sobre o Bullying e como acham que se deve lidar com esse assunto.
- Convoquem assembleias, promovam reuniões ou fixem cartazes, para que os resultados da pesquisa possam ser apresentados a todos os alunos.
- Facultem a oportunidade de que os próprios alunos criem regras de disciplina para suas próprias classes. Essas regras, depois, devem ser comparadas com as regras gerais da escola, para que não haja incoerências.
- Da mesma maneira, permitam que os alunos busquem soluções capazes de modificar o comportamento e o ambiente.
- Sempre que ocorrer alguma situação de Bullying, procurem lidar com ela diretamente, investigando os fatos, conversando com autores e alvos. Quando ocorrerem situações relacionadas a uma causa específica, tentem trabalhar objetivamente essa questão, talvez por meio de algum projeto que aborde o tema. Evitem, no entanto, focalizar alguma criança em particular.
- Nos casos de ocorrência de Bullying, conversem com os alunos envolvidos e digam-lhes que seus pais serão chamados para que tomem ciência do ocorrido e participem junto com a escola da busca de soluções.
- Interfiram diretamente nos grupos, sempre que isso for necessário para quebrar a dinâmica de Bullying. Façam os alunos se sentarem em lugares previamente indicados, mantendo afastados possíveis autores de Bullying, de seus alvos.
- Conversem com a turma sobre o assunto, discutindo sobre a necessidade de se respeitarem as diferenças de cada um. Reflita com eles sobre como deveria ser uma escola onde todos se sentissem felizes, seguros e respeitados.


Papel da escola

Diversas discussões com os representantes das escolas participantes no programa foram desenvolvidas para obtenção de alguns princípios básicos na política de intervenção, e estabeleceu-se que, em cada unidade de ensino seria criado um Conselho formado por representantes da comunidade escolar, capaz de definir e priorizar as ações de acordo com os contextos sociais e políticos locais, buscando-se, assim, as soluções mais factíveis para a resolução dos problemas relacionados ao bullying.

Embora as pesquisas referentes ao bullying ainda sejam modestas, já existem algumas medidas práticas sendo adotadas no país. Entre os dias 28 e 29 de março deste ano, por exemplo, a cidade de João Pessoa, na Paraíba, sediou o I Seminário Paraibano sobre Bullying Escolar. Organizado pela Promotoria de Justiça da Infância e da Adolescência da Paraíba, em parceria com os governos municipal e estadual e o apoio de instituições privadas, o evento teve como objetivo, além de debater o assunto, orientar profissionais da Educação e do Judiciário sobre como lidar com esse problema. A Promotoria de Justiça elaborou um requerimento para acrescentar os casos de bullying ao Disque 100, número nacional criado para denunciar crimes contra a criança e ao adolescente. O documento foi enviado para o Ministério da Justiça e à Secretaria Especial de Direitos Humanos.

Além disso, já existe um projeto de lei, de 2007, que autoriza o Poder Executivo a instituir o Programa de Combate ao Bullying, de ação interdisciplinar e de participação comunitária, nas escolas públicas e privadas do Estado de São Paulo.

Soluções...

O primeiro passo é que a vítima precisa compreender que ser alvo dessa violência não é motivo de vergonha. Perceber que o silêncio não resolve nada e pedir ajuda. Contar para os pais ou alguém de confiança, além da direção da escola.

Fazer cursos fora do colégio, atividades com outras pessoas, até cuidar de um bichinho, são coisas simples que ajudam a recuperar a auto-estima. Quanto mais ler sobre o assunto, melhor. O aluno, aos poucos vê que não tem culpa do que acontece, e que quem o agride também precisa de ajuda, afinal, agredir outro para se sentir melhor não é algo saudável.

A discussão também é vista por Cleo Fante como parte da solução do problema. Segundo ela, mesmo a escola não sendo muitas vezes o palco direto dessa forma de ataque, é um espaço que favorece a continuidade dos maus-tratos. Nesse sentido, ela recomenda que especialistas no assunto discutam com os profissionais da escola e com os alunos, encontrando maneiras de prevenir o bullying em suas diversas formas, com o objetivo de melhorar a qualidade das relações pessoais e de ensino.

Experiência exitosa
:

Como Orientadora Educacional, do CED 416 de Santa Maria é constante a visualização da "cura" de muitos alunos que chegam com histórico de depressão, desânimo escolar, choro constantes, falta de vontade de frequentar às aulas, entre outros. Inicio o processo com um questionário para detectar o Bullying. Apresento alguns vídeos, textos informativos para professores, alunos e pais. Através de conversa individual e em grupo, mostro que a vítima pode sim enfrentar o/os agressor/es, é só criar coragem e olhar bem nos olhos do opositor e dizer com firmeza: "não aceito que me tratem assim". O primeiro passo não é fácil, por isso é importante, antes trabalhar a auto-estima das vítimas. Recentemente (junho/2010), atendi uma aluna do 1º ano de Ensino Médio que já tinha mudado de escola por várias vezes e sempre era atingida pelo  BULLYING Não foi diferente na nossa escola, sua mãe foi pedir sua transferência e solicitei que a deixasse um mês para trabalharmos com ela. Um determinado dia, essa aluna com mais quatro colegas, aproveitou o material que eu tinha repassado e elaborou um trabalho em sala de aula, apresentando o tema num debate avaliativo de Português. Siua mudança é visível. A aluna citada, hoje passa pelos corredores da escola com uma nova fala: "agora é só felicidade" e através de seu depoimento os ganhos têm se multiplicado.

Nosso Recado:


O Fenômeno Bullying é silencioso e cruel, não afeta apenas o ambiente escolar, traz consequência negativas para a formação de valores e do caráter de nossos jovens, que irá refletir duramente ao longo de suas vidas.

O Bullying está diretamente relacionado com futuro profissional, com uso de drogas, com a violência sexual e doméstica, com os crimes contra o patrimônio, e, conseqüentemente, com os altos gastos do governo para atender a demanda da justiça, dos presídios, dos programas sociais e da saúde. Esses investimentos que são pagos com o suor de cada trabalhador e trabalhadora, poderiam ser direcionados para a melhoria das escolas, para materiais didáticos de qualidade e para o salário de cada cidadão e cidadã brasileira.

É preciso criar uma escola solidária, bem humorada, onde seus atores sintam-se felizes e capazes de quebrar esse ciclo de violência. Como bem disse o psicólogo José Wanderlei, num encontro em Santa Maria: É preciso de cada um faça sua parte e contribua com simplicidade, amor à causa e brilho nos olhos. Essa é a nossa maneira educativa de ser.
Video: Alyne Lima


Fontes:

Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção a Infância e a Adolescência (ABRAPIA).
http://www.observatoriodainfancia.com.br/Fenômeno Bullying , Cleo Fante - Editora Verus 2005
• http://www.bullying.com.br/
• http://www.denunciar.org.br/
• http://www.diganaoaobullying.com.br/
• http://www.bullying.pro.br/

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